Continuo sem entender a origem da nossa invejite nacional.
Invejite, tal com a palavra decomposta sugere, seria a inflamação mais aguda assinalável no invejómetro, um aparelhinho q temos enfiado algures entre a nossa reconhecida hospitalidade e a inegável frustração do q podíamos ainda ser e já não somos se não fosse toda uma série de páginas negras q a História nos foi escrevendo.
Não sei a qdo remonta a nossa invejite. Acredito q não seja genética. Conheço algumas pessoas q não a manifestam. Não sei se por coincidência, ou não, os menos atreitos a esta inflamação vivem ou já viveram fora deste país. Sem dados q provem o q digo, tem-me parecido, inclusive, q qto mais pequeno o mundo em q se vive, maior o invejómetro instalado. E por mundo pequeno, refiro-me ao mundo interior, q não restem dúvidas.
Acredito q a nossa típica resposta "Mais ou menos" à sempre amável pergunta "Então, senhor(a) fulano(a), como está?" nada mais é do q um sintoma da omnipresente invejite. Se a resposta fosse um sincero, sorridente "Muito bem, sim senhor(a), a vida tem-me corrido de feição e sou uma pessoa verdadeiramente bafejada pela sorte!", seria um ai-deus-nos-acuda! Mas como raio é q uma criatura pode estar honestamente de bem com a vida e driblar esta cepa-torta em q estamos todos e andar assim tão "muito bem, obrigado(a)"?
Aqui começa o invejómetro a aquecer. Falha, de entrada, o discernimento de admirar alguém pelo q conseguiu alcançar. Falha a empatia de se ficar contente com o sucesso do outro, alegre com a alegria do outro. Falha, depois, a humildade de abrir o coração à possibilidade de aproveitar o facto de já alguém ter alcançado esse topo desejado e de se poder até poupar algum esforço se se lhe pedisse conselho e orientação.
Ora, em vez disso, o q vem? Despeito, "Q raio?! Pq se gaba tanto?!", afinal a manifestação de satisfação com a vida por parte de outra pessoa só pode ser um ataque directo e pessoal ao nosso fracasso...
Por esta altura, já o invejómetro está ao rubro. Despeitados, cientes do nosso próprio fracasso e agrilhoados a ele, deixamos a inveja inflamar e projectamos no outro a frustração q construímos para nós próprios ao longo dos tempos. Pq não nos sentimos bem com o q somos, com o q conquistámos, com o concretizámos, vemos à nossa frente nada mais do q o nosso próprio dedo acusador. E, infelizmente, projectamo-lo no infeliz q teve a ousadia de se manifestar feliz nas nossa barbas.
Como consciente, ou insconscientemente, nos fomos dando conta de q temos uma invejite nacional crónica, chegámos à conclusão q o melhor era mesmo passar o mais desapercebidos possível. Pq a verdade é q a invejite nos causa medo. Medo de rir, medo de nos divertirmos, de nos mostrarmos contentes. Aliás, demasiado contentes. Por isso achamos q tantos outros povos são mais alegres do q nós. Por cá, há um q.b. q não convém ultrapassar. Por isso achamos os espanhóis uns espalhafatosos. Pq raio riem e falam tão alto? Já os brasileiros, coitadinhos, andam contentes e não têm grande coisa com q se alegrar (aqui defendemo-nos com um sentimentozinho paternalista q enjoaria Freud).
Em última análise, a invejite causa-nos medo de nos dizermos felizes, logo, de nos sentirmos felizes. Pq acredito q, tal como aquilo q comemos serve para contruir as nossas células, tb. aquilo q pensamos, alimenta o nosso espírito. Supondo, claro, q para além da energia material das mitocôndrias, há tb. uma qualquer energia metafísica em nós. Importa, por isso, alimentá-las de vitamina "A-C": Auto-Confiança!
E lá vem o ditado: junta-te aos bons, serás como eles; junta-te aos maus, serás pior q eles. Então, não serão melhores os laços com o pessoal do astral em cima?!
(mais uma vez reflicto sobre o facto de se algo nos incomoda nos outros, provavelmente é pq existe em nós)