19 março 2010

o meu pai

(ilustração: Isol, Argentina)

Ensinou-me a andar de bicicleta, a usar o berbequim e a fazer bricolage, a mudar os pneus e a verificar o óleo no carro, a conduzir, vinha aconchegava-me os cobertores à noite, saltava as ondas do mar comigo pelo braço para eu não ter medo, abria a persiana devagarinho de manhã para não acordar sobressaltada, protegia-me dos bullies na escola, fazia a caderneta dos cromos comigo, lia-me as legendas do Popeye antes de eu aprender a ler, vinha comigo à natação desde a 1ª classe, jogava comigo badminton depois do colégio, fazia construções comigo na praia e jogava raquetes até eu me cansar, ia-me buscar à discoteca pra eu e as minha amigas não virmos à boleia com amigos com os copos (era embaraçoso, mas hoje agradeço), foi quem me explicou como nasciam os bebés, foi-me buscar a 2000 kms qdo a vida deu um nó sem 1 comentário amargo, conta histórias q me fazem rir qdo estou com a testa franzida e chama-me à razão carinhosamente qdo não a tenho, chispamos pq temos feitos parecidos, mas são essas faíscas q nos iluminam.

Sim, vou continuar a ser a menina mimada do papá! :o)

ouvir




empatia (grego empátheia, -as, paixão) s. f.

Forma de identificação intelectual ou afectiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa.

Tb. há quem diga "pôr-se no lugar do outro" ou traduza directamente do inglês "calçar os sapatos do outro".

Custa assim tanto?...

Estou aqui a remoer o qto me chateou a falta de empatia deste fim de tarde. Bem sei q não desfraldei a bandeira do "ouve-me à gaja, sim?" e qdo assim é, arrisco-me a ser ouvida à homem, com soluções e comentários em vez de abraços e "tens razão em te sentires assim". Não me posso voltar a esquecer do pré-aviso, tipo "está a ligar para um assinante q pertence ao sexo feminino. Reserve os seus comentários."

Mas ser ouvida à gajo de vez em qdo não é assim tão mau... Complicada é uma outra criatura q orbita na minha vida e q não importa o tema, não importa o assunto, não importa a história, não importa a pessoa q lhe conta a história, nem se já acabou a história, nem tão pouco se já acabou a frase, qto mais se já acabou a história, a ditosa criatura já está a dizer "eu tb já assim assado" ou "e eu blá blá blá". TUDO ela tb já blá blá blá blá blá blá blá blá blá.......... E a outra pessoa fica com a história a meio, sem a menor hipótese de a acabar, pq a criatura pra TUDO tem a sua versão.

Nessas altura, gostava de ter por perto um amigo Juan Carlos q lhe dissesse "Por que no te callas?"

18 março 2010

despertador

(imagem: não sei)


Antes custava taaaanto levantar de manhã!... Mais ainda no Inverno. O despertador tocava e eu carregava no snooze do rádio, aconchegava ainda mais o edredão e prometia: "só mais 5 minutos" e passados 2 segundos já dormia outra vez. Aqueles minutos entre toques passavam num instante.

Usava 2 despertadores. O rádio, para ver se ia acordando, devagar, e, antes da era do telemóvel, mais um a pilhas, analógico, com bip-bip-bip, q me garantia não falhar em caso de faltar a luz.

Por isso, chegava a pôr o despertador meia hora mais cedo, para poder estar neste ritual masoquista, 4 snoozes, às vezes 5, levantava-me a resmungar, atrasada para o mundo e começava a funcionar só passadas 2 horas deste inferno matinal diário.

Com a maternidade, veio tb. uma mola no cú. Chega a ser detestável, pq ainda o membro mais novo da casa não recuperou o fôlego do 1º queixume, já eu me levantei de um salto, contornei a esquina da cama pra não bater lá com exactamente o mesmo sítio da canela, apalpei a ver se a porta do quarto não ficou entreaberta e não me acerta na testa como uma vez aconteceu, avancei pelo corredor, empurrei a porta do quarto da criança e já estou a olhar para ela, a providenciar conforto, cobertor, nebulizador para a tosse, "já passou" para pesadelos e a voltar para a cama.

Com esta brincadeira de Inverno rigoroso de tosse e ranhoca, a mola do cú não me dá descanso, há meses q as noites são todas interrompidas. E com a serotonina não se brinca: sono desregulado, humor...(ia dizer uma asneira, mas é melhor não pq não rima)... estropiado.

Agora já não sei se é para ajudar à festa ou se já é ressaca da festa... Não é q para além de já não precisar de despertador (a mola é bem mais eficaz), acordo com as galinhas e no resto das horas q faltam até ao rádio começar a tocar, o trabalho fica a moer-me o juízo e não me consigo libertar daquilo, tal e qual um pesadelo a cores, como qdo durmo com as costas destapadas?...

Arre!! E ainda a sazonal não entrou em força... estou lixada, este ano!...

14 março 2010

saldo


Qdo vejo alguém na rua a lavar o passeio à mangueirada fico furibunda e só me apetece gritar:

- SUA BESTA!!! Há gente no mundo q morre à sede!

Mas depois olho para o meu próprio umbigo e penso: "sua besta..."

10 março 2010

burn-out




Quer-me parecer q a catadupa de achaques, torcicolos, cefaleias e vertigens dos últimos tempos já é o estoiro deste burn-out q se tem estado a avolumar e se começa a tornar cada vez mais evidente.

Mas para melhorar o ramalhete, entra em cena o meu amado sentimento de culpa: como é q me posso dar ao luxo de dar o tilt se não tive um terramoto à porta, nem um tsunami, nem uma enxurrada, nem um filho q se atirou ao rio por causa do bullying na escola, posso sair à rua sem burca, tenho comida q comprar e água q beber, limpa, ainda por cima...?

A minha gota de água de hoje foi saber q estava internada uma miúda com 4 anos (4 ANOS!!!) num serviço de pediatria, não interessa onde, com suspeitas de abuso sexual.... 4 ANOS!!! E a preocupação da pessoa com quem falei não era o facto de haver uma miúda com 4 anos (4 ANOS!!!) a ser abusada sexualmente... a preocupação dessa pessoa era a chatice de ter q fazer um relatório para o tribunal, q não lhe competia a ela fazer...

Quão podre está este mundo, merda?!?

E não há ninguém q vá ao focinho (pelo menos) do fulaninho q abusa da miúda?... E ao focinho dos coleguinhas bullies do miúdo q se atirou ao rio?...
Bem sei q ando em fase de martelo e tudo me parece um prego...