09 novembro 2009

pegajoso


(ilustração: Gustavo Aimar)


Às vezes, pensamos q os outros precisam da nossa empatia pq sofrem com qualquer coisa q a nós nos faria sofrer.

Ainda q assim fosse e q estivessem descontentes, não é um dado adquirido q precisem de empatia. Pq a empatia, nestes casos, pode soar a pena e, aí sim, não creio q gostemos q sintam pena de nós. Isso seria assumir q há razões para terem pena de nós, q há efectivamente cá dentro algo de realmente fraco, vergonhoso ou errado.

Eu tenho um pé grande. Sempre tive. Passei o início da adolescência a calçar sapatos de rapaz pq não havia, na cidade onde vivia, o 39 para mulher. Na altura, sentia-me esquisita, diferente. Desejava calçar o 38, q era o q algumas amigas calçavam e o n.º máximo q havia à venda nas sapatarias. Agora continua a ser difícil encontrá-lo pq já há mais "patudas" a dar cabo do parco stock disponível.

À medida q aumentei o meu armário dos sapatos, fui diminuindo a insegurança adolescente. Assim como uma espécie de substituição: atafulhei o vazio da vergonha de ser pé-grande ("assim consegues dormir em pé, ah,ah, ah!") com vários pares de sapatos. Mas, aparentemente, fiquei em paz.

Há uns dias, qdo cometi a insensatez de anunciar o meu pé 40, franziram-me a testa, com ar de pena, acrescentaram um "deixe lá, não se importe". Foi uma forma de me mostrar q, aos seus olhos, um pé 40 é uma razão para embaraço e, por isso, uma desgraça meritória de consolo.

Nesse dia percebi q a empatia q recebi, zelosa, solícita, mas não solicitada, foi uma forma de apontar o dedo a um problema q já não sinto como tal. Meti mão à consciência e percebi q o q recebi é tal e qual o q costumo dar: empatia pegajosa. Resta saber se vou conseguir fazer o desmame deste hábito, afinal, tão antipático.

2 comentários:

Unknown disse...

Miuda,
Há coisas que por muito que queiramos não conseguimos mudar.
Faz parte da natureza humana.
Gostei de ver que já havia mais pintas no miau.
bjinho

miau com pintas disse...

queres tu dizer q já não tenho remédio?... :o( ou q a natureza humana já não tem remédio?... dedico-me antes à agricultura? ;o)