05 dezembro 2009

epifanias

(ilustração: alex pelayo)

Há uns tempos, numa conversa como as cerejas, falavam-me de dogmas.

Contaram-me q um certo guru do budismo, vegetariano desde há 500 reencarnações, aceita ir comer pastéis de bacalhau qdo visita o nosso país e q não se faz rogado qdo o convidam para o rodízio à brasileira.

A personagem em causa, tão segura q é da sua essência enquanto indivíduo, não precisa de se agarrar inflexivelmente aos seus dogmas para manter a sua identidade. Conhece-a bem. Sabe quem é, o q vale, sente-se em paz com aquilo em q acredita. Não é por comer aquele bolo de bacalhau ou aquela picanha q deixa de ser vegetariano ou de se manter fiel aos seus princípios. Tal como um omnívoro q come comida vegetariana 1 vez (ou 2 ou 3 ou 100), não passa a ser vegetariano por isso, tb. ele não deixou de professar a não-agressão para com todos os seres vivos... Pq tb. teria sido uma agressão recusar aqueles convites.

Percebi pq me agarro com unhas e dentes aos meus dogmas e pq tenho tantos. Qdo um dia souber exactamente quem sou, na minha essência, sem precisar de me definir recorrendo às minhas crenças, ao meu passado e às minhas experiências, ao meu presente e aos meus hábitos, aos meus sonhos, ao q gosto e ao q detesto, talvez deixe de precisar deles.

Tantas vezes q desdenhei as "árvores de natal" q se passeiam nos shoppings todo o ano, atulhadas dos pés à cabeça com as últimas tendências e de sacos de compras no braço com as próximas, na tentativa de colarem por fora um rótulo com a identidade q não encontram por dentro e percebi q estou no mesmo estadio, mas sem recorrer às horrorosas leggings de napa brilhante...

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